A idéia que deu origem a este blog não é este blog. Antes o relato da profunda e transformadora jornada em busca de ser mãe. O desejo de compartir sempre existiu, as idéias saltavam como entidades com vida própria que nasciam pra ser do mundo. Aquela primavera de imagens, frases inteiras, diálogos, pedia interlocutores, alguém que ouvisse seu brotar. Inquietava-me quem eu começava a ser, os contextos que acompanhavam esse (re)surgimento e suas possibilidades de assimilação de minhas convicções e escolhas sobre parir, criar, educar: o país com suas políticas de saúde, suas convenções acerca do parto e do nascimento, o senso comum sobre educação, as famílias que me cercavam naquele momento. Foi então que resolvi escrever algo que contasse minha experiência. Seria perfeito (!!!): uma narrativa, digamos, mista, com toques de um livro de memórias, ao mesmo tempo em que passaria adiante informações as quais considero importantes sobre as sutilezas descobertas nas estações conceber, gestar, parir, criar. A primeira página me martelava há muitos dias, cedi às súplicas e... - o fim! Saiu tão ruim que tive vergonha de ler uma segunda vez: escondia-me, em humor patético, num ridículo manual de sobrevivência. Não, não era isso. Inspirada por um antigo professor de faculdade, não joguei o material fora. Mas também não ousei tocá-lo. Semanas depois, ousei. E percebi que aquelas palavras me diziam, em generosas e sutis entrelinhas, que, além de péssimas, eram igualmente preciosas, pois traziam o gérmen de algo bom – nada como ouvir o mestre e transgredir a si mesmo.
Foi quando lembrei de meu projeto pessoal para Marina, minha filha, acalentado desde seu primeiro mês de vida: escrever para ela sua própria história, até onde eu fosse capaz, até onde sua memória consciente talvez não alcançasse. Esse projeto primeiro tinha a ver com sobreviver e superar a mim mesma porque trazia à tona dificuldades de pós-parto, relatos de sensações sem lembranças, sentimentos sem nome, possíveis indicações de vivências de infância, de recém nascida, talvez até, de bebê ainda no útero de minha mãe. Ao me ver nesse mar de inconsciência que gritava estranhos sussurros, senti-me em um deserto, já que quase nenhuma informação confirmava coisa alguma. Foi por isso que me presenteei com o compromisso de relatar para Marina minhas próprias sensações que estão ligadas ao começo de sua história, desde quando foi concebida. A princípio, este seria um relato íntimo, anotado em caderno espiral de pauta, para entregá-la quando, já adulta, tivesse condições de compreender, ainda que pelo olhar de sua mãe (e não pelo seu próprio). Imaginei que seria rico abrir para ela a minha vivência em um tempo em que nós duas éramos praticamente uma e, mesmo depois, quando não éramos tão uma assim. Finalmente a idéia desta publicação virtual fez-se configurada: era através do exercício de contar sua própria história à minha filha que extrairia o tom certo às minhas palavras para todo o mundo. Para falar com minha filha queria doçura e integridade – o mesmo que desejo ao leitor que não conheço – nada a ver com a pretensão de publicar algo “interessante”, pitoresco ou engraçado. O relato para Marina deve ser tão útil a ela quanto a qualquer um, porque traz ao lume conteúdos tão profundos e francos que acabam por tornar-se universais. Estão aí, para quem quiser ler.
Agora, com suas licenças, meu papo é com Marina (e com mais quem quiser ouvir) até a última palavra.
Agora, com suas licenças, meu papo é com Marina (e com mais quem quiser ouvir) até a última palavra.
Amada irmã,
ResponderExcluirÉ com uma imensa alegria que te leio aqui nessa colchinha deliciosa de retalhos! É com o meu coração de mãe que me emociono a tentar imaginar Marina grande, lendo sua vida do princípio. É com todo o orgulho que te abraço e te desejo um ínicio divino de caminhada no universo das palavras. Sou suspeita para dizer que é um dos melhores caminhos que conheço. Virei aqui sempre, para beber da tua sabedoria. Te amo e estou muito feliz em estreiar os comentários desse pedacinho especial do mundo. Marina, minha flor, você já viu que maravilha de mãe que você escolheu lá do Céu, não é? Um beijo de amor em cada uma. Tatí
Ana,
ResponderExcluirSua história com Marina é inspiração de amor, é exemplo. Que lindo vc ter esta decisão de escrever e, sobretudo, a generosidade de compartilhar com todos nós.
Eu de longe vou me sentir mais participante da vida de vocês. Sem contar que a sua narrativa é uma delícia de ler!
Lindas, vocês. Estou aguardando o proximo post.
ResponderExcluirBeijo!
Re
ana, ana... o que posso dizer, diante do que sinto lendo tuas palavras? não consigo descrever! Percebi vários sentimentos e inquietações semelhantes aos meus...Vou acompanhar querida, com todo meu coração. beijo,
ResponderExcluiradriana a mãe do augusto...
p.s.: botei anônimo pois não conheço as outras opções!
Muito Lindo Ana...Tenho certeza que Marina vai se orgulhar muito de quando crescer poder ver o que voce construiu para ela, sobre ela, sobre voces. Já posso imaginar como será linda essa colchinha de retalhos, tamanha a sua delicadeza e os profundos sentimentos que trancreve a cada linha...Muitos Beijos pra voces..Celinha
ResponderExcluirQuanta gentileza compartilhar isso conosco Ana. Todas as bênçãos para essa mãe e essa filha que juntas trilham uma jornada de muito amor e conexão!
ResponderExcluirEstarei por aqui, acompanhando o tecer da colcha.
beijo carinhoso,
Mari
cadê mais??????
ResponderExcluirAnita, minha amiga,
ResponderExcluirObrigada por esse compartilhar que tantas vezes me inspirou, me emocionou, me ajudou, me modificou... Que seu amor ecoe em muitos corações.
Ju e Francs